Thursday 11 February 2010

Inquérito de rua


"A divulgação da existência de uma bomba como base em actos que contrariam decisões de altos magistrados é inaceitável" - concorda?


1. O simpatizante negacionista

“Não há bomba nenhuma, dizer que aquilo é uma bomba não tem qualquer sentido.”


2. O simpatizante formalista

“A divulgação do que quer que seja que contrarie decisões de altos magistrados é inaceitável”.

Mas... e se for uma bomba muito perigosa, de grande alcance?

“O estado de direito é o estado de direito, ponto.”


3. O simpatizante com um pé aqui e outro ali

“A forma é importante, e eu condeno a divulgação da bomba. Mas na situação actual é um suicídio político ignorar o conteúdo da bomba.”

Mas é apenas um suicídio político ou é também ilegítimo e pouco ético?

“O que eu disse é que é um suicídio político e mantenho-o. Atenho-me aos factos”.

Tem alguma coisa a dizer sobre o potencial destrutivo da alegada bomba?

“O que eu queria reiterar é que a forma é importante mas não podemos ignorar o conteúdo, na actual situação política isso já não basta e temos de responder a cada momento ao que acontece ao nosso redor. Muito obrigado.”


4. O discordante subtil

“Bom, eu parece-me que isto é de facto uma bomba e o que eu posso dizer é que não gostaria de viver numa sociedade onde estes explosivos fossem o pão-nosso de cada dia. O que também me parece claro é que o Governo, enquanto entidade, não terá estado envolvido no fabrico desta alegada bomba.”


5. O simpatizante "a puta-da-idade deu cabo de mim"

“Hoje vou-vos falar do Obama, que tem tido vários problemas neste primeiro ano de governação, e eu até tive a honra de os discutir no outro dia ao telefone com o meu amigo Chávez! E isso é sempre um prazer.”


6. O simpatizante rei-das-falácias

“Como é que alguém pode achar que se trata de uma bomba estando vivo? O facto de muitos falarem desta bomba é a prova maior de que esta bomba não o é.”


7. O simpatizante a caminho do osteopata

“Nem me dei ao trabalho de ler os pormenores da divulgação desta bomba porque isto tudo é ridículo. É ridículo sequer pensar que tal bomba possa existir, como é inaceitável que se viole a privacidade de quem quer que seja para descobrir alegadas bombas como esta. Sempre defendi o direito à vida íntima de cada um.”

O seu trajecto indica lutas várias em que sempre denunciou a possível existência de bombas nos mais diversos lugares, quando os alegados bombistas eram diferentes, o que mudou?

“Não mudou nada, preciso de me repetir? Que merda.”


8. O simpatizante que dispensa o osteopata

“É uma bomba, definitivamente. Não é clara a forma como quem de direito lidará com esta descoberta, mas os seus fabricantes estão ligados à máquina”.


9. O animador de rua

“Como é óbvio, o país precisa de tudo menos de mais uma bomba! Aqui entre nos, ó Maria, isto é uma chatice tremenda. Não convém a ninguém, e é claro que os alegados bombistas não podem ser condenados. O melhor era esquecer isto tudo, porque, olhe, o FMI anda de olho em nós, o desemprego avança... Vamos fingir que a bomba não existe!”


10. O discordante cara-de-pau

“Isto demonstra que quem está por detrás disto não tem qualquer autoridade para continuar em funções. Pelo menos o alegado bombista italiano tem algum nível.”

Mas... o senhor há uns anos não era conhecido como o temível boxeur que dia-sim-dia-sim fabricava pequenos explosivos como este?


11. O discordante sereno

“O país atravessa uma crise grave, esta bomba deixa-me preocupado, e infelizmente não posso dizer que me surpreenda, como sabem desde há muito tempo que tenho vindo a denunciar acções tendentes ao fabrico de explosivos semelhantes. A par de outros problemas graves que afectam Portugal, esta bomba convida-me a uma profunda reflexão, a qual quero partilhar com vocês e para a qual vos convido. Já não basta mudar, é preciso romper.”


12. Um simpatizante às 2as, 4as e 6as, discordante às 3as, 5as e Sábados, e aleatório aos Domingos

“Isto é uma bomba, a divulgação é condenável e há que distinguir a forma do conteúdo. Mas quero também dizer que quem divulgou a bomba não tem autoridade moral para acusar quem quer que seja. Depois há outra coisa: não vejo mal nenhum em notar algo que pode ser apenas uma coincidência, mas que seria estranho que fosse: há quem esteja a aproveitar esta bomba para lançar a candidatura de um tipo potencial de bombismo ainda maior e eu não gosto de participar em esquemas destes. Por isso me recuso a denunciar a alegada bomba em manifestações com intenções escondidas.”


13. O simpatizante muito, muito enevoado

“Em comunicado, como sabe, eu consegui desmentir alegadas declarações de um conhecido bombista num almoço onde vários jornalistas estavam presentes, sem, na verdade, esclarecer o que quer que fosse. Foi de mestre, não foi?”


14. O saudosista

“Ah, menina... já não se fazem bombas como se faziam no tempo da outra senhora... Ali tudo rebentava, mas era uma alegria, andava tudo na ordem, não se namorava como agora, essas porcarias...”


15. O copcónico

“Pá, ouvi falar sobre isso, pois foi, pá. Mas no meu tempo é que era, pá!... A gente juntava-se para mexer com explosivos, escolher uns alvos, pá, aquilo era uma farra, pá… Rebentávamos com quem se queria! E as mulheres, pá… havia lá umas operacionais bem boas... Se o tempo voltasse atrás!”


16. O simpatizante abrântico nos corredores

“Eh pá, o chefe pediu rapidez na resposta a um tipo que publicou umas merdas agora na bloga sobre a alegada bomba e que já deve estar a passar para os jornais. Ele quer um contraditório antes da 1h00 da tarde para almoçar descansado! Procurem aí naqueles dossiers um despacho do Diário da República para pôr esse malandro em cheque”.


17. O simpatizante n. 1 (escutado)

“Chefe! Tudo bem? Estou a ligar duma cabine, não te preocupes, pá! Isto é giro!’”

“Meu maroto! Como é que estão as coisas, pá?”

“O gajo pôs mesmo aquilo nos jornais… a coisa está preta, aquele almoço intimidador não foi suficiente... Mas já temos gente a abafar isto, está tudo sobre rodas. Os Abrantes 2 e 3 estão a todo o gás a recolher informações para distribuir nas próximas horas. Os telefonemas já foram feitos e os estragos estão minimizados para já.’”

“Espero bem que sim.”

“O Nandinho é que nos fodeu com aquela declaração sobre a tua mentira...”

“Pois foi. Mas não te preocupes, que toda a gente sabe o que tem a fazer. Falei com o coiso ainda agora e o gajo saiu-se com uma bestial, diz que vai dizer que tem tantas condições para exercer o cargo agora como quando começou!”

“Genial, chefe! Às vezes uma verdade até sabe bem para variar! (risos alarves). Também já passámos por tanta coisa que não será mais esta bombinha a deitar-nos abaixo... Era o que a bruxa e o enfia-bolos-rei queriam, coitados!”

“Olha, almoçamos à 1h30 no sítio do costume? O Abrantes 1 também vai aparecer”.

“Okapa, chefe. Até já.”

“Até já. E não te esqueças de ligar sempre para este novo número e de cabines telefónicas públicas, ouviste?”

“Sim, chefe!”


18. O preocupado, embora, porém, portanto, até, hã

“O que eu posso dizer é que a lei tem de ser cumprida. Como sabem eu estou longe... vim aqui ao Pulo-do-Lobo [marido, é Idanha-a-Nova!], perdão... a Idanha-a-Nova... para promover mais esta iniciativa que visa ajudar a relançar o optimismo no país, mostrando o que de bom os nossos jovens empresários fazem... e, portanto... entendo que é meu dever ater-me ao que se relaciona com esta visita...”

Pode-nos dizer se já falou com os envolvidos? Tenciona chamar alguém para uma conversa de esclarecimento?

“Como disse não posso atender a esse assunto agora... Encontro-me no Pulo do Lobo... perdão, em Idanha-a-Nova, e como tal [piiii].”