Thursday 11 February 2010

Coisas realmente simples

Tem uma graça dos diabos, ler a Fernanda Câncio e a Isabel Moreira. Podia lembrar um caso antigo e famoso na blogosfera que envolveu a saída de um blogger que escrevia com a Fernanda mas não o faço. Até porque não conheco os motivos dessa saída embora seja capaz de um bom palpite (bolas, dois tiques estalinistas num só parágrafo, ando a ler Daniel Oliveira a mais).

A não ser por um pequeníssimo acaso, como é se explica, Fernanda, que pessoas autónomas, e tantas, ainda para mais (estatisticamente tornam uma "ausência total" muito menos provável, e de forma exponencial), que sempre criticaram personagens públicas de vários quadrantes políticos quando elas se viram envolvidas em casos onde "alegadamente" teria havido uma tentativa de controlo ou pelo menos de "influência grosseira" sobre a liberdade de imprensa e de comunicação social, como no tempo de Santana Lopes, não digam nada desde há semanas, meses?

Porque é que todos, sem excepção, os que participam no Jugular, nunca escreveram o que quer que fosse de incómodo sobre José Sócrates, com tantas coisas que tem vindo a lume? Não é estranho? Há uma diferença entre escreverem sentenças e pedirem cabeças, louvarem o PSD ou o Cavaco, e mostrarem alguma inquietação, algumas dúvidas, algum distanciamento. Dizer "este não é o meu PS", ou "esta não é a minha esquerda". Qualquer coisa do género. E isso é tanto mais estranho exactamente por, como tu bem dizes, muitas delas terem tido um "percurso público [que] evidencia não só independência como até, sempre que assim o entenderam, rupturas e resistência em relação a 'consensos' e situações que não mereciam a sua concordância".

Não há uma contradição óbvia entre esse percurso e o silêncio, ou a complacência, ou o puro gozo, que se vê no teu blogue face à gravidade das informações que apareceram no Sol? (Que aliás, tu pimposa e galante disseste não ter lido, salvo erro 2a feira, ou 3a feira, enquanto discutíamos comigo de um assunto relacionado com isso numa caixa do teu blogue). Não será estranho? Será por falta de autonomia por estarem rendidas ao PS ou aos encantos de José Sócrates? Tenho as maiores dúvidas, exactamente pelo "percurso" - pelo menos de alguns.
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Mas falta de autonomia é certamente. Por que será então? Será pela amizade e lealdade à protagonista principal do blogue, tu, Fernanda? É capaz de ser isso, não é? Porque essa regra escrita, que o Pacheco Pereira talvez não tenha escrito, é esta: "Em blogue onde a Fernanda participa não se diz mal de José Sócrates." Naturalmente que isto não é uma regra escrita mas subentendida - e naturalmente que não há forma de "eu" provar isto. Poupo-te o remark.

O que é triste para mim é ver, perante uma situação gravíssima pela qual Portugal passa, tantas pessoas serem incapazes de erguer a voz contra abusos do poder gravíssimos - só porque as "amizades bloguentas" e a tal regra implícita o ditam. Pessoas que eu conheci a propósito desta nobre luta e que julgava terem outra fibra, outra independência. Não faço vida de "cafés e sociedade" e aceito que lobos das estepes melhor fora que calassem sobre o valor e a importância de certas "lubricidades sociais". Se o que escrevo a seguir é insuportavelmente paternalista, é também o que penso genuinamente: tenho poucas dúvidas que se alguns jugulares parassem um segundo para pensar fora da caixa "jugular-fernandiniana", pusessem a mão na consciência e pensassem com algum distanciamento naquilo que o actual tem primeiro-ministro tem feito - e o que se suspeita que ele tenha feito -, talvez dessem menos valor às "amizades bloguentas" e mais ao seu bom nome. Mais que não fosse pelo tal passado de que falas.

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1. Devia saber que fica muito feio lembrar as "defesas" que fez a alguém (no caso, Pedro Lomba) agora que o acusa disto e daquilo. Queria o quê, a Isabel? Créditos por isso, para quem "mimou" depois a "poupar"? É o jogo de créditos e débitos que a anima a escrever?
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2. Se é "doentinha pela liberdade, desde logo pela liberdade de imprensa, e, também, pela privacidade, e pelo respeito pelo segredo de justiça, e pela reserva da vida privada, e por um Ministério Público e uma magistratura em geral que me proteja, e por juízes imparciais que não façam política" então devia estar na manifestação, pelo menos deixava a sua honestidade intelectual um pouco mais salvaguardada.