Monday, 15 February 2010

A Europa totalitária ao virar da esquina...

O Jugular ensandeceu. É a conclusão que se retira de uma série de posts destinados a equiparar as notícias do Sol a bufaria pidesca e a um novo totalitarismo na forja. 

Isto de caminho com outros que - ui, ui...- "provam" a existência de episódios de interferência na comunicação social nos governos cavaquistas. Hèlas, e infelizmente para os jugulares, nenhum que se assemelhe ou sequer chegue perto da gravidade dos indícios de uma tentativa de aquisição, por mãos amigas do primeiro-ministro, da totalidade dos órgãos de informação não alinhados com o governo. 

Em todo o caso, o maior exemplo de delírio está neste post do João Galamba - medo logo no título: "a bufaria e o proto-totalitarismo" - que, citando o sempre solícito Bastonário dos Advogados, fala num jornalismo de bufos, que recorre a métodos do Estado Novo e que se serve - ai, ai...- da polícia de costumes (em "bastonarês", Polícia Judiciária e Ministério Público) para perseguir gente séria e honrada como o Sr. Primeiro-Ministro.  

Que o Sr. Bastonário envergonha a classe que é suposto representar já se sabe; que defende "a outrance" o poder socrático e que acalenta um ódio visceral às magistraturas e às polícias, também;  que o João Galamba era um devoto do discurso delirante de Marinho Pinto, é que não.

Mas não é esse o ponto. O que interessa dizer ao João Galamba, que não será propriamente uma pessoa insensata (pelo menos, quando não esteja em causa a demissão do primeiro-ministro e do resto do polvo), é que, segundo o douto critério galâmbico, o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem será...uma instituição totalitária. 

Não é o TEDH que condena o Estado Português de forma sistemática quando este, por sua vez, condena jornalistas pela violação do segredo de justiça a propósito de notícias credíveis e de interesse público? Não é o TEDH o maior defensor da tese de que o interesse público da notícia se sobrepôe à honra e bom nome dos por ela visados, especialmente quando estes sejam políticos? Não consiste a justificação disso mesmo numa concepção do jornalismo como contra-poder, verdadeiro "watch dog" dos outros poderes, entre os quais o político? Que diria o TEDH se os jornalistas do Sol fossem condenados - por violação do segredo de justiça ou por um simples crime de desobediência, previsto, a partir da reforma de 2007, no artigo 88º do CPP - pela simples razão de tornarem público um esquema do Primeiro-Ministro para fazer adquirir por mãos amigas a quase totalidade dos meios de comunicação social ainda não alinhados do poder? 

E mais dúvidas inquietantes nos surgem por mera indução a partir do pensamento "galâmbico /bastonante". Será que vivemos num regime proto-totalitário até 2007, data da entrada em vigor da norma pela qual os jornalistas do Sol poderão vir a ser condenados? Será que Sócrates é um proto-totalitário por ter governado até 2007 permitindo que os jornalistas publicassem escutas constantes de um processo já não submetido ao segredo de justiça? O horror, a tragédia...

Pois, pois, bem me parecia que isto era um delírio do João Galamba. Faço votos que seja apenas temporário.