Sunday 14 March 2010

O Erro Fatal


Nos próximos dias Rangel será provavelmente qualificado como o "candidato populista".  Acenou, afinal, com a maioria absoluta e até com o sonho nunca concretizado de Sá Carneiro, numa altura a todos os títulos improvável.  Fê-lo em dois discursos excelentes e galvanizadores que o poder mediático, nas mãos de Passos Coelho e, sobretudo, de José Sócrates, a quem interessa sobremaneira a vitória do passismo, se encarregarão de desvalorizar e amesquinhar. Nada que não tivesse acontecido com Manuela Ferreira Leite a quem, fraco consolo, se reconhece hoje unanimamente ter tido razão "antes de tempo" (enganam-se: teve-a no tempo devido). 

Em matéria de populismo tem, porém, o PSD mais com que se preocupar. A estratégia mais populista, demagógica e por isso mesmo mais perigosa para o partido passa por provocar eleições num momento de imaginada fragilidade socialista, apresentando para o efeito um candidato débil, com um passado obscuro e incapaz de proferir um discurso político digno desse nome. Mais, um candidato cujas propostas liberais avulsas, despidas de um pano de fundo teórico minimamente inteligível, provocarão repulsa imediata nos sete milhões de portugueses dependentes do Estado.  

Na vertigem do poder, acicatada pelas juras de chumbos convenientemente póstumos ao PEC e ao orçamento,  será esse o golpe final num partido visivelmente debilitado aos olhos da opinião pública. Sejamos claros. Passos Coelho é o "sitting duck" com que Sócrates sonha, o candidato ideal para os socialistas sob todos os pontos de vista: 

- percurso parecido com o do PM (o que os Abrantes farão com "estórias" como as da Sábado...);

-  absoluta incapacidade de discursar e de galvanizar audiências, mesmo quando favoráveis; 

- propostas liberais avulsas e por isso socialmente fracturantes num país dependente do Estado;  

- apoios perigosos (Marco António, Menezes, Ruas e a generalidade dos caciques locais do PSD). 

A vitória socialista será obtida sem esforço e, mais do que isso, constituirá eventualmente o golpe final no PSD com que Portas há muito vem sonhando, mortinho que está por apanhar os restos do que foi em tempos um grande partido e alçar o CDS à condição de grande partido da oposição. 

Qual a solução para tudo isto? Só vejo uma: obrigar o PS a governar em tempos de "apertar do cinto", forçando Sócrates a sofrer as agruras das suas políticas, e esperar pelo fim da legislatura para, então sim, tentar voltar ao poder com um projecto amadurecido por três anos de oposição firme e resoluta, mas também responsável, para com o país e o partido. Quem a pode protagonizar? Evidentemente, a única pessoa que percebe o que estará em jogo nos próximos três anos: Rangel.