Tuesday 9 March 2010

Do cinismo do eleitor português

Pedro Lomba, no seu artigo de hoje no Público (sem link), constata o óbvio: "Por isso dou razão a quem tem insistido na absurda fraude que foram as eleições de 27 de Setembro. É oficial: fomos mesmo enganados".

Já Pulido Valente, em artigo, salvo erro, de sexta-feira passada, dissertava sobre o aparente conforto com que os portugueses encaram a mentira como instrumento do poder socialista, tolerada pela maioria a troco de nada, porque nada de bom é o que o governo tem para oferecer aos eleitores nos dias que correm.

Tudo isto tem uma explicação. O cinismo português relativamente à classe política é puramente destrutivo. É o cinismo do taxista para quem "os políticos" são uma "corja" que "come na gamela" de que falava a candidata Elisa Ferreira. E, portanto, se todos os políticos são mentirosos, indiferente se torna apoiar o político A ou B, porque todos eles, em qualquer altura, violarão o contrato eleitoral.

Longe de se tratar de uma posição crítica que passe por uma desconfiança construtiva relativamente a diferentes propostas políticas e que, por isso, seja capaz de separar o trigo do joio, o cinismo português possibilita, pelo contrário, pela indistinção e indiferença com que trata os diferentes partidos e protagonistas políticos, a aceitação das maiores fraudes. Como aquela em que se tornaram as eleições de Setembro passado.  Em suma, um cinismo perigoso e suicida. 

Perante isto, esqueçam os candidatos à liderança do PSD qualquer possibilidade de arrependimento dos portugueses. O cinismo é militante, pelo que nem confrontado com a aceitação da maior fraude eleitoral de que há memória, haverá da parte dos eleitores o menor sinal de arrependimento ou de vontade de mudança. Que assim é, mostra-o o facto  de "a fraude" permanecer à frente nas sondagens com uma vantagem confortável sobre o maior partido da oposição. Cinismo situacionista, portanto, o do eleitor português.