Monday 8 March 2010

Directas no PSD (II) - A Educação

A apresentação de propostas por parte dos candidatos em qualquer eleição transformou-se num exercício eleitoralmente perigoso pelas circunstâncias que já elenquei

Exemplo disso mesmo é a proposta de Rangel de introduzir a partir do sétimo ano uma via de ensino semi-profissionalizante para alunos que não queiram ou não possam prosseguir os seus estudos na via tradicional / académica, proposta essa que não só permitiria libertar o ensino tradicional para maiores graus de exigência, com também possibilitaria a adequação da oferta escolar às necessidades dos alunos e do mercado. 

Começando pela posição de Aguiar Branco, segundo a qual a proposta nada teria de novo, estando no programa do PSD e traduzindo o que existe em matéria de oferta de educação no sistema público de ensino, é fácil de constatar a evidente falsidade da mesma (mais uma vez, aqui o fact check daria jeito). O que existe, de facto, é a possibilidade de escolha do ensino profissional a partir do nono ano, sem que antes exista qualquer reencaminhamento dos alunos que não queiram ou não possam seguir a via académica para alternativas de ensino que correspondam aos seus objectivos pessoais. 

De acordo com Passos Coelho, num registo panglossiano, tudo correria bem no ensino em Portugal e quaisquer sinais de desgaste do sistema seriam devidos à massificação do mesmo no período a seguir à Revolução, sem que tal pusesse em causa a qualificação dos professores (que ninguém questionou) ou a qualidade do ensino. Aparentemente a existência de passagens administrativas de alunos com oito ou nove reprovações em quatorze disciplinas, não o incomoda, tanto assim que o vemos adoptar  a ladaínha socialista, segundo a qual tudo o que de mal acontece, acontece porque tinha de acontecer. Preparem-se que teremos muito disto nos próximos anos, a acreditar nas pitonisas da sic-notícias que juram pela vitória do candidato preferido dos socialistas.

Já da parte de alguns liberais, a resposta é uma espécie de falso dilema: ou a liberdade de escolha ou nada, passando por cima da constatação banal de que até entre sistemas de ensino público existem gradações significativas que obrigam a escolhas políticas.  E que, por isso, será sempre preferível o modelo de Rangel ao vigente, atento o facto de nenhum dos outros candidatos, nem, para o caso, ninguém em Portugal, defender a privatização do sistema nos próximos tempos. Já para não falar no absurdo que seria a transição de um modelo público para um modelo privado, sem quaisquer passos intermédios, entre os quais aqueles que, como a proposta de Rangel, permitem a adequação do ensino à procura dos alunos e do mercado, ao mesmo tempo que aumentam a liberdade de escolha de pais e alunos. 

E estamos assim. A proposta de Rangel é péssima, porque ou "tudo está bem" (Passos Coelho) ou "é mais do mesmo, mesmo que o "mesmo" seja diferente" (Aguiar Branco) ou, ainda, é má por definição, porque não corresponde ao nosso "wet dream liberal".

Qualquer pessoa decente perguntaria: "mas então como se propôem combater situações como a dos alunos que passam com mais de oito chumbos em quatorze disciplinas?" Resposta: silêncio. E continuaria: "mas então qual é o problema de um sistema análogo ao alemão em que as escolas procedem a uma triagem dos alunos, segundo as suas capacidades, e os reencaminham para vias de ensino diferentes, sempre sem prejuízo do ingresso na faculdade para os alunos que obtiverem notas suficientes?" Embaraço.

Quando muito, dirão como o RAF que a proposta de Rangel é "fascizante" para fim de discussão. E, de facto, a discussão acaba aí.  Mas apenas por se ter atingido o grau zero da mesma.