A uma semana do Congresso e a três das Directas, é já possível fazer uma análise mais profunda do que têm sido os debates entre os candidatos à liderança do PSD.
Antes de mais, reflectem-se nestas eleições as tendências negativas que têm vindo a diminuir a qualidade do debate público em Portugal: a pessoalização da política (vide, na questão da comunicação da candidatura de Rangel a Aguiar Branco por sms), a valorização de truques baixos de retórica (a menorização de um dos candidatos em virtude dos seus anos de militância) em detrimento da apresentação de propostas (no caso, a ausência das mesmas por parte de AB), a centralização do fogo inimigo em quem as apresenta, bem como, e finalmente, a avaliação de vencedores e vencidos em função destes critérios. O que, como é fácil de perceber, em vez de reduzir tais tendências à expressão mínima, apenas as alimenta e perpetua para futuros debates.
Temos muito aprender com os americanos nesta matéria, a começar por um instrumento simples que deveria ser obrigatório em qualquer análise política de debates: o "fact check" que se segue a qualquer debate americano e que passa muito simplesmente por confrontar os "factos" apresentados pelos candidatos com a realidade, apurando-se, a final, o "vencedor" em função de quem disse "verdade" aos eleitores e não de "quem lixou bem o adversário".
Mas sendo a realidade portuguesa como é, fácil se torna considerar, em uníssono com a quase totalidade dos comentadores nacionais, que Rangel tem "desiludido" e que, pelo contrário, os outros candidatos têm constituído "agradáveis surpresas". Afinal, Rangel tem estado na defensiva, porque se vê obrigado a defender as suas propostas, enquanto que os outros se apresentam "ao ataque", seja porque não se acham vinculados à apresentação de propostas (JPAB) , seja porque passam por elas à velocidade da luz (Passos Coelho), sem qualquer propósito de esclarecer os militantes.
Resta que o que se tem discutido são precisamente as propostas de Rangel sobre educação e ordenação do território. O que se discute também é a posição dos socialistas relativamente às directas no PSD e o facto de patrocinarem Passos Coelho a favor da perspectiva de uma oposição dócil e facilmente influenciável para pactos de regime, circunstância que só poderá assustar os militantes do PSD, maioritariamente a favor de uma oposição agressiva que só Rangel pode protagonizar.
Os dados estão lançados e é altura de Rangel começar a capitalizar as suas vantagens competitivas.